Quem sou

Eu sou Carla Souza, autora e contadora de histórias.

Entrei na faculdade aos 19 anos, admiradora da leitura, nesta época já havia escrito o primeiro romance, hoje o defino como “coisa de criança”.

Porém, escolhi uma carreira que daria sequência ao que havia aprendido no Ensino Médio, minha primeira graduação foi em Ciências Contábeis, área onde atuei por muito tempo.

Aos 28 anos perdi a audição após grave problema de saúde, minha recuperação foi muito lenta, incluindo algumas sequelas além da perda auditiva. Ao retornar a antiga atividade profissional fui acolhida pelos colegas, mas minhas interações eram poucas e minha tristeza era muito grande, eu havia retornado curada de tudo, mas estava surda.

Devido a esta mudança identitária, voltei a apreciar e consumir literatura, os livros voltaram a ser minha melhor companhia.
Em certo momento percebi que nada do que já havia lido narrava a trajetória de alguma personagem surda ou contava com a presença de surdos nas narrativas, mesmo que com pequenas participações. Eu não percebia a presença de surdos em nenhum momento das histórias que li e isso aguçou minha curiosidade.

Recordo de certa vez ter ido a uma biblioteca pública definida como “totalmente” acessível. Ao chegar, me apresentei como surda pedindo para conhecer o acervo acessível direcionado aos surdos. Admito ter sido atendida pela recepcionista com muita gentileza.

Ao Entrar na biblioteca deparei-me com espaço amplo e bem iluminado, rampas de acesso por todo o entorno (inclusive do lado de fora), elevador, prateleiras baixas para o manejo livre dos livros pelas crianças e cadeirantes, acesso grátis a internet, acervo sonoro para quem desejasse utilizá-lo, não apenas os deficientes visuais. Para surdos não havia nada, nada.

A partir desse dia, tudo mudou. Eu decidi voltar a escrever. Iria escrever as histórias que gostaria de ter lido naquela biblioteca autodefinida como “acessível”.
Após a triste experiência, houve nova reviravolta na minha vida, voltei aos estudos. Ingressando em um curso que me aproximaria de quem passei a ser no a partir do momento da perda auditiva.
Lentamente eu conheci a realidade dos surdos que nascem em núcleos ouvintes, ou perdem a audição ainda crianças, eu não faço parte de nenhum dos dois modelos de surdez. Na faculdade tive a oportunidade de ser identificada e compreender que a comunidade surda é permeada por várias identidades.

Atualmente, com o curso concluído, eu escrevo para surdos. Como minha formação é pedagógica, procuro escrever histórias que possam contribuir informalmente no processo educativo dos estudantes da comunidade a qual também faço parte.
Eu escrevo para surdos, não sobre eles.

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